O Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais abre em Belo Horizonte as comemorações de 120 anos do nascimento do fundador do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Assessoria IHGMG
No último sábado, 21/07, o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais homenageou, em sessão especial, os 120 anos de nascimento de Rodrigo Melo Franco de Andrade, um dos fundadores do Serviço de Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (atual IPHAN).
Na ocasião, o secretário de Estado de Cultura de Minas Gerais, Angelo Oswaldo de Araújo Santos, passou em revista a vida de Melo Franco em um discurso permeado de casos e curiosidades deste ilustre mineiro tão importante para os setores culturais de Minas e, principalmente, do Brasil. Angelo Oswaldo ressaltou a importância do IPHAN na defesa do patrimônio histórico e das lutas que Rodrigo travou para resguardar a memória do país por meio da preservação de seu patrimônio cultural.
Participaram da sessão, dentre outros, a associada efetiva Ângela Gutierrez, presidente do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, o superintendente do Arquivo Público Mineiro, Thiago Veloso Vitral, e o associado efetivo Mário de Lima Guerra, reitor da Faculdade de Sabará que, na ocasião, receberam a Medalha Comemorativa dos 250 anos do Santuário Nossa Senhora da Piedade, chancelada pelo IHGMG.
A sessão do IHGMG foi uma promoção da Comissão Cultural Permanente de História de Minas, presidida pelo associado efetivo Rogério Faria Tavares.
Dr. Rodrigo – guardião do patrimônio cultural brasileiro
Nascido em Belo Horizonte, em 17 de agosto de 1898, Rodrigo é o filho mais velho do casal Rodrigo Bretas de Andrade e Dália Melo Franco de Andrade. Do lado paterno, descende de tradicional família de Ouro Preto, em que figura seu bisavô, Rodrigo José Ferreira Bretas, autor da primeira nota biográfica sobre o Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, em 1858. Pelo lado materno, Melo Franco, suas origens se enraízam na velha Paracatu do Príncipe, região noroeste do Estado.
Rodrigo fez o estudo das primeiras letras no Ginásio Mineiro, em Belo Horizonte. Aos 12 anos, foi matriculado no Lycée Janson de Sailly, em Paris-França, onde continuou o curso secundário. Morando com seu tio, o jornalista, escritor e jurista Afonso Arinos (1868-1916), conviveu com inúmeras personalidades que se destacavam na vida intelectual brasileira, como o escritor e diplomata Graça Aranha, o jornalista e político Tobias Monteiro e o escritor Alceu Amoroso Lima. Retornando ao Brasil, Rodrigo iniciou o curso de Direito na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Devido à transferência de moradia, fez parte do curso em Belo Horizonte e em São Paulo, o que permitiu seu contato com vários intelectuais.
Teve atuação jornalística que se estendeu a vários jornais e revistas como Estado de Minas, A Manhã, O Estado de São Paulo e O Cruzeiro. Na década de 1930, foi convidado para a chefia de gabinete do ministro da Educação e Saúde Francisco Campos. Na ocasião, fez a indicação do arquiteto Lúcio Costa para a direção da Escola Nacional de Belas Artes.
Em 1936, indicado por Mário de Andrade e Manuel Bandeira, Rodrigo foi convidado pelo ministro Gustavo Capanema para organizar e dirigir o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN. Era necessário instituir as diretrizes para garantir a proteção dos bens culturais e a definição de parâmetros legais e técnicos específicos para a área. Fruto do abnegado trabalho do Dr. Rodrigo, e contando com a opinião técnica de vários profissionais, a política de preservação do patrimônio histórico e artístico nacional ganhou força e começou a ser desenvolvido com o amparo legal do decreto-lei nº25, de 30 de novembro de 1937.
Dr. Rodrigo, como era chamado pelos colegas de instituição, foi diretor/presidente desde a fundação, em 1937, até o ano de 1967, quando se afastou após 30 anos de dedicada atuação. Rubem Braga
testemunhou a abnegação do Dr. Rodrigo quando das comemorações dos 20 anos da instituição, em 1956. Diz ele: “O que os funcionários ouviram foi um grave e delicado ‘pito’ e um apelo para que trabalhassem mais. Nenhum se queixou depois; todos ficaram comovidos porque o funcionário que Rodrigo mais censurou foi ele mesmo, o chefe. O chefe que viveu estes 20 anos exclusivamente para o serviço, a ele se entregou com um total carinho, uma completa humildade e uma extraordinária devoção. Depois de historiar, com áspera modéstia, o que o Serviço fez nestes 20 anos, Rodrigo fez a lista das coisas que se devia ter feito e não se fez e acusou disso em primeiro lugar a ele, chefe”.
Além da preservação do patrimônio, Dr. Rodrigo se preocupava com a divulgação do tema por meio da apresentação de estudos, ensaios e monografias. Nesse sentido, foi criada a linha editorial do SPHAN, com destaque para a Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cujo nº1 foi lançado ainda em 1937. Presente a seminários em todo o mundo sobre a temática de patrimônio, museus e história e participando pessoalmente de visitas técnicas a vários estados brasileiros, a figura de Rodrigo Melo Franco foi associada à de guardião do patrimônio cultural do país. Após se aposentar, em 1967, Dr. Rodrigo passou a fazer parte do Conselho Consultivo da instituição que criara, até a sua morte, em 11 de maio de 1969. Em 1998, ano do seu centenário de nascimento, todo o Brasil passou a celebrar o Dia do Patrimônio Histórico, na data de seu aniversário – 17 de agosto.
Fotos: Acervo Iphan / João Batista / José Lopes
Fonte: Proteção do patrimônio cultural: o ideal conquistado por Rodrigo Melo Franco de Andrade.
In: Bem Informado IEPHA/MG Nº 67, Agosto de 2013