Selo personalizado celebra os 110 anos do deputado Fabrício Soares da Silva

No último sábado (2/12), a Faculdade de Direito da UFMG recebeu a cerimônia de lançamento e obliteração do selo comemorativo em homenagem aos 110 anos de nascimento do advogado e deputado estadual Fabrício Soares da Silva. A solenidade foi promovida pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos em conjunto com a Casa de Afonso Pena.

O evento contou com a presença de diversas autoridades no dispositivo de honra, incluindo o desembargador Roberto Soares de Vasconcellos Paes, associado do IHGMG, a superintendente de Mídia Institucional do TJMG, desembargadora Áurea Maria Brasil Santos Perez, o diretor da Faculdade de Direito da UFMG, Hermes Vilchez Guerrero, o juiz federal do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6), Marco Antônio Barros Guimarães, o procurador de Justiça Jacson Rafael Campomizzi, o promotor de Justiça Marco Antônio Borges (representando o Instituto Histórico e Geográfico de MG – IHGMG e o Governo de Portugal), e o coordenador de negócios da superintendência estadual dos Correios em Minas Gerais, Fabrício Angelo de Oliveira.

Também marcaram presença na cerimônia a superintendente adjunta da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef), desembargadora Lilian Maciel Santos, e os desembargadores do TJMG Evandro Lopes da Costa Teixeira e Jaubert Carneiro Jaques.

Fabrício Soares, natural de Piumhi, Minas Gerais, graduou-se em Direito pela UFMG e, como advogado, destacou-se na Comarca de Belo Horizonte antes de ingressar na cena política do Estado. Participou ativamente do movimento pela redemocratização do país durante o Estado Novo, contribuindo também para a criação do partido União Democrática Nacional (UDN). Eleito deputado estadual, integrou a Assembleia Constituinte de 1947, encerrando seu mandato em 22 de agosto de 1958.

Além disso, Fabrício Soares da Silva foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e exerceu a presidência do Diretório Estadual do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Sua atuação política foi documentada no projeto de história oral “Memória Política de Minas”, publicado em 1998 pela Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG).

O desembargador Roberto Soares de Vasconcellos Paes expressou que o selo é uma maneira de destacar as virtudes de seu avô, ressaltando-o como “um homem probo, que sempre lutou e resistiu pela liberdade, além de ser um advogado idealista”.

Hermes Vilchez Guerrero, diretor da Faculdade de Direito da UFMG, enfatizou que Fabrício Soares é um exemplo representativo dos indivíduos formados pela instituição ao longo de sua história, pessoas voltadas ao interesse público e ao bem-estar social.

O selo, concebido pelo jornalista Moisés Mota da Silva, apresenta a imagem do deputado Fabrício Soares em primeiro plano, com o antigo prédio da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) ao fundo, projetado pelo arquiteto Raphaelo Berti.

fotos: Cecília Pederzoli / TJMG


Um homem digno e um lutador cívico

José Bento Teixeira de Salles
Estado de Minas, 31/10/2000

O início da década de 50 assinalou a aceleração do processo demagógico e corrupto da política nacional que, já esboçado na ditadura getulista, infelicita e envergonha o nosso País.

Foi então que despontou, na Assembleia Legislativa de Minas, a bancada udenista, que marcou, sem dúvida, uma das mais brilhantes fases da vida republicada do Estado.

Como jornalista, tive oportunidade de assistir, de perto, ao desenvolvimento dos trabalhos legislativos e de avaliar toda a dimensão moral e cívica daquele grupo de idealistas, em oposição à política dominante. Seriam 18 ou 20 deputados inexperientes, mas que se projetavam em um plenário de 74 parlamentares, graças aos seus atributos de pugnacidade, inteligência, cultura e daquele toque mágico do idealismo que inspira a autêntica vida pública.

Entre eles, estava o deputado Fabrício Soares, cujo recente falecimento, na Capital, consternou a todos que o conheceram.

Jovem advogado, despontou para a atuação política em meados do século, já revelado os méritos que lhe deram o justo realce, em uma bancada onde pontificavam nomes como Oscar Dias Corrêa, Edgar da Matta Machado, Carlos Horta Pereira, Guilherme Machado, Manuel Taveira, Osvaldo Pieruccetti, José Cabral, Paulo Gomes Guimarães, Amadeu Andrada, Milton Sales e Fidelcino Vianna.

Registre-se, de passagem, que destes políticos, apenas dois não se afastaram depois da vida pública, quando perceberam que a Revolução de 64 não atendia às suas aspirações cívicas.

A partir daquela época, a carreira política de Fabrício Soares foi retilínea e firme como o voo do condor, levando à amplitude dos céus, a mensagem de luta, idealismo e independência. Pois assim foi ele, pela vida afora, inquebrantável em suas convicções na luta pela justiça social e por um mundo mais livre, onde não prevalecessem as desigualdades iníquas.

Jamais fez concessões, jamais tergiversou, jamais admitiu injustiças sociais e desvios morais da natureza humana.

Sua bravura, que não poucas vezes poderia ser interpretada como um sectarismo intransigente, era, na realidade, o combate incessante, com idealismo e independência, em defesa dos princípios com que sempre sonhara.

A certa altura, o Brasil tomou rumos diversos daqueles que inspiraram sua atuação. Uma terrível noite sem luz se abateu sobre o País. Fabrício se isola em sua casa na Pampulha, como se passasse a viver o grande exílio voluntário da desilusão. Talvez sentisse náuseas, diante do quadro pútrido da realidade nacional.

Era como se entrasse em amargurado processo de misantropia, para se distanciar do mundo que não era o seu e dos homens que já não eram os de sua época. Os amigos que o frequentavam, porém, iam encontrar a mesma lucidez na interpretação dos fatos, o mesmo incorruptível comportamento, a mesma rara coerência que inspirava sua atuação política.

Para ele, o Palácio da Inconfidência, no velho prédio da rua Tamoios, palco de grandes pugnas, era agora a imagem do poeta: um retrato na parede.

Esperanças e ilusões, idealismo e independência, tudo perdido na voragem do tempo e na mesquinha visão humana dos grandes problemas nacionais.

Para isso lutara?

Ah, a dignidade pessoal, a altivez bayardiana e a bravura cívica com que, nos debates, Fabrício Soares enfrentava os adversários!

Já não há mais. Ele morre com a morte de seus sonhos.

Um comentário

  1. Vania Soares Fróes

    Não poderia deixar de expressar minha gratidão pela honrosa homenagem prestada ao meu pai nos seus 110 anos de nascimento. Muito me sensibilizou o reconhecimento e a valorização da sua atuação como político e advogado. Deixo, também, especial agradecimento ao jornalista Moisés Mota que, num trabalho brilhante, idealizou a concepção do selo. Muito obrigada a todos.

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